Ele é de Dom Inocêncio-PI, “Terra dos Sanfoneiros”. Veja o relato de Marcos Damasceno sobre Cirano Dias. A partir de agora, seu nome está reconhecido a nível nacional!
(Cirano
Dias)
Cirano Dias, de saudosa memória, sanfoneiro do município de
Dom Inocêncio-PI, herdeiro do patriarca e pioneiro Júlio Dias figura agora na
galeria dos grandes nomes nacionais da sanfona de 8 Baixos – ver (sanfonade8baixos.blogspot.com)
– considerado um iluminado do sertão. Ele vai
para a lista de grandes mestres como Seu Januário, Mestre Aureliano (pai de
Pedro Sertanejo), Abdias, Zé Calixto, Antenogénes Silva, Tio Bilia, Hermeto
Pascoal, Renato Borghetti, dentre
outros.
O escritor Marcos Damasceno, autor de sua
biografia, e que influenciou na campanha, comemora:
- Nada
é impossível àquele que tem fé. Desde que publiquei no Portal SRN sua história,
eu almejava reconhecimento para um sanfoneiro de tal importância. Um sacrifício de grande valia, pois saímos da fase da tradição oral, ter
a história somente na boca das pessoas, sofrendo por
vezes algumas distorções através de perigosas investidas, para termos um
registro; um reconhecimento. E ainda nacional. Isso é gratificante.
- Cirano Dias sempre se preocupou com o futuro dessa história e assumiu
responsabilidades. Enfrentou verdadeiros desafios, quando nossa terra ainda
galgava os primeiros passos de sua história centenária. Ele acreditou
heroicamente no sucesso dessa história, e contribuiu significativamente para a
tradição, já centenária. Sentiu o sabor amargo do grande desafio de consolidar
uma longa caminhada do forró. Sanfoneiro. Ele já nasceu assim. Nasceu num
período em que o forró estava aflorando. Provou que Cultura é simplesmente a
manifestação da experiência das pessoas. A tradição, a história e a visão de um
povo. Estou muito contente de ver hoje seu nome ser lembrado.
Segundo Damasceno, o aprendizado é transmitido de
pai para filho. A tradição também. E que na maioria dos casos, os sanfoneiros
tocam “de ouvido”, isto é, sem nenhuma instrução teórica ou educação musical
formal. Cirano Dias é filho do
patriarca do forró regional, Júlio Dias da Silva. Seus irmãos Vavá, Rodolfo
e Julinho também são sanfoneiros; mas Vavá e Julinho já falecidos. Desde
criança se dedicou ao instrumento de 8 baixos, tornando-se uma lenda do forró
brasileiro. Cirano Dias tem dois filhos sanfoneiros: Vagner e
Menezes (de saudosa memória). Vagner deu continuidade à tradição da sanfona de
8 baixos. Até hoje tem o instrumento que era do seu pai, que para ele tem
enorme valor sentimental. E histórico.
A
história está registrada em dois livros: “Júlio
Dias: memória de um grande homem”, de autoria de Marcos Damasceno e
Marivalda Dias; e “Gigantes do Forró:
perfis biográficos”, de autoria de Marcos Damasceno.
O
sanfoneiro Adão da Rufina, de Dom Inocêncio-PI, mas que reside no Estado de São
Paulo, conta:
- Júlio Dias foi um mestre, de quem tenho eterna admiração. E no quesito
forró ele é respeitado. A história do forró regional se confunde com a história
dele. A sanfona de oito baixos é difícil de executar. Precisa habilidade. O
ensino é oral, quase não existem métodos como para sanfona-piano. O sanfoneiro
tem
de gostar do instrumento. Júlio Dias e seus filhos sempre foram vocacionados para a sanfona. Cirano Dias foi meu amigo. Tocava muito. Numa sanfona, em afinação natural, conseguia tirar chorinhos. Além dos forrós. Não sei como. Ele foi um dos maiores no segmento.
de gostar do instrumento. Júlio Dias e seus filhos sempre foram vocacionados para a sanfona. Cirano Dias foi meu amigo. Tocava muito. Numa sanfona, em afinação natural, conseguia tirar chorinhos. Além dos forrós. Não sei como. Ele foi um dos maiores no segmento.
Mestre Adão da
Rufina prossegue:
– Não se aprende tocar 8 baixos na escola de
música. Não existe escola para ela. Existem sim mestres, que preservam a
tradição. O ensino passa de pai para filho. Quem entende desse histórico
instrumento musical sabe o quanto é difícil tocar nele. A sanfona de 8 baixos é
mais difícil do que as outras. Muito diferente. Tem suas particularidades.
Requer certas habilidades para manuseá-la. Uma
curiosidade: no começo da sanfona, em geral no Brasil, zona rural, não havia
rádio. As músicas passavam um ano para os sanfoneiros aprenderem, pelo menos
alguns versos. Logo transformavam em som, forró solo-instrumental. Se o forró
não tiver boa letra, é melhor só tocar. O sujeito dança ainda melhor.
O sanfoneiro
Vavá Dias, seu irmão, de saudosa memória, contou:
- Cirano dormia com a sanfona. Tocava toda hora, todo dia. E tocou a
vida toda. Foi ele um dos responsáveis pela abertura de olhares para a
diversidade da música na nossa terra. Estudava repertórios, que ouvia no rádio.
Aprendia e ensinava aos outros sanfoneiros. Onde quer que ele fosse, se
apresentava com sua sanfona de 8 baixos. (Fonte: “Gigantes do Forró: perfis biográficos”)
Leo Rugero, maestro do Rio de Janeiro-RJ, relata:
- Sinto-me honrado em fazer uma referência ao
trabalho de Marcos Damasceno. Ele que tem empreendido uma obra de extrema
importância àqueles que procuram novas fontes de pesquisa sobre a cultura
nordestina, em particular a tradição musical relacionada à sanfona. No meu caso
particular. Em período anterior à fonografia comercial destinada a este
segmento. À exceção do "velho" Januário, devido a seu posicionamento
privilegiado de "vovô do Baião", haviam raros relatos escritos sobre
os sanfoneiros deste período. Era como tentar descortinar uma história de um
passado distante no tempo, quase uma arqueologia sonora.
- Porém, em meio à escassez de escritos e
transcrições de relatos e narrativas orais, me deparei com um trabalho que
despertava atenção, não apenas pela rara historicidade nele contida, bem como
pelas fontes iconográficas e reflexões sociológicas. Tratava-se do trabalho do
professor Marcos Damasceno sobre Júlio Dias, eminente sanfoneiro piauiense da
virada do século XX. O município de Dom Inocêncio, no Piauí, foi um dos
importantes centros de difusão da prática do fole de oito baixos no sertão
nordestino, a ponto de ser conhecido como "A TERRA DOS SANFONEIROS".
- Um aspecto importante na metodologia de Marcos
Damasceno é o de separar a noção de tradicionalismo em relação ao
obscurantismo, buscando conciliar o legado cultural e a ancestralidade com a
mudança e as linhas de continuidade e descontinuidade que se apresentam no
percurso histórico. Indubitavelmente, o trabalho de Marcos Damasceno ocupa um espaço
de relevância entre os novos discursos acerca da cultura nordestina. (Fonte: “Gigantes do forró: perfis biográficos”).
Cirano Dias é um mestre de tantas experiências vividas, histórias para contar e heranças
musicais. Merece esse reconhecimento. Um tributo ao mestre da sanfona de 8
Baixos.
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