quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Saiba quem foi Coronel José Dias, o sertanejo obstinado do Piauí que deu nome a cidade vizinha a Dom Inocêncio.



'precursor da família Dias e bisavô do deputado Marcelo Castro'
Conheça uma das grandes personalidades de nossa região neste precioso relato feito por Marcos Damasceno, grande historiador e escritor inocentino. .
 José Dias, sertanejo obstinado

Há exatos 134 anos nascia Cel. José Dias. Sua vinda ao mundo (ou melhor: à nossa terra) causaria impacto na convivência social e nas questões sociais. Afilhado do meu tetravô materno major Alexandrino, fazendeiro que tinha a patente da Guarda Nacional. Gosto de escrever pela via da pessoalidade; passa vínculo e envolvimento. Ficamos íntimos da história a ser contada. E dessa forma, fazer um tributo à sociedade. Através destas linhas rabiscadas, venho relatar sobre uma das mais importantes personalidades de nossa região: José Dias de Souza.

Sou testemunha do orgulho que nossa gente tem por sua memória. De fato, ele foi um homem do povo. Sertanejo obstinado. Autêntico sertanejo. Sempre viveu no sertão. Filho de agricultores humildes. Seu primeiro trabalho foi na roça, como lavrador. Sua infância foi difícil – de difícil sobrevivência. Nesse ambiente de grandes sofrimentos, passou os primeiros anos de sua vida. Isso certamente marcou sua personalidade profundamente. Cresceu observando a labuta diária do povo de nossa terra.

Pela sua notável inteligência e perseverança tornou-se prefeito (intendente) de São Raimundo Nonato-PI e, mais tarde, deputado estadual. Dessa forma, cometia uma heresia aos olhos das elites da época. Um homem corajoso e justo. De retidão moral. Suas palavras eram diretas. De acordo com o livro “São Raimundo Nonato, de Distrito-Freguesia a Vila”, de autoria de William Palha Dias:



- José Dias de Souza nasceu no dia 24 de abril de 1878 e faleceu a 07 de setembro de 1962. Era filho de Mariano Dias de Souza e de Ana Maria da Silveira.
Fonte: Wikipédia


Muitos causam confusão. Confundem Cel. José Dias de Souza com o Capitão-do-mato José Dias Soares. Provavelmente o primeiro seja descendente do segundo, mas não é a mesma pessoa. São de épocas diferentes. A saber:

- Segundo o escritor William Palha Dias, no seu livro “Caracol na História do Piauí” o comandante José Dias Soares é seu tetravô. Ele era da fazenda Endoema, berço dos Dias, hoje município de Remanso-BA (cidade nova). Em 1785 teve um namoro (proibido pela sua família) com uma jovem do povo. Por sinal, uma moça muito bonita. Os pais do jovem, fidalgos orgulhosos e soberbos, usaram da prepotência para separá-los. Enviaram-no para Oeiras-PI, antiga capital, para a casa do Visconde Manoel de Sousa Martins. Era então brigadeiro.
- Mais tarde, precisando o governo da Capitania estender conquistas ao extremo Sul do Piauí, José Dias Soares, que recebera a patente de capitão-do-mato, foi escolhido para liderar a Bandeira do médio e alto rio Piauí. Era habitado pelos índios Pimenteiras, pertencentes à tribo dos valentes Tapuias. Por volta de julho de 1807. Foram três bandeiras, sendo que a Grande Bandeira ocorreu em 1808, conquistando a lagoa de Bonsucesso. Depois chamada de Formiga e, mais tarde, do Caracol.
- Em 1912, Aureliano Augusto Dias consegue elevar Caracol a município. Sendo ele bisneto do comandante. Era filho de João Dias, neto de Domingos Dias Soares. Aureliano Dias era ainda avô do escritor William Palha Dias.

Voltando à história do coronel. Em 20 de janeiro de 1910, por decreto do hoje extinto "Ministério da Justiça e Negócios Interiores", José Dias de Souza é nomeado Tenente-Coronel da Guarda Nacional à frente do 153º Batalhão de Infantaria da Comarca de São Raimundo Nonato (Piauí). Ainda Vila. Dotado de grande erudição e capacidade de realização, fez história na nossa terra como autodidata. De vastos conhecimentos. Foi ainda advogado rábula e promotor público.
Em 1928 disputou a prefeitura de São Raimundo Nonato-PI com o jovem Bitoso Silva. Bitoso ganha a eleição. Em 1930 veio o golpe da revolução, patronado por Getúlio Vargas. Cel. José Dias torna-se prefeito provisório no mesmo ano. Sua passagem pela prefeitura foi provisória, pois sua gestão estava atrelada ao governo de Humberto de Arêa Leão, governador do Piauí.

Casou-se duas vezes. Primeiro em 1897, com Maria Martins. Teve nove filhos no primeiro casamento. Segundo em 1911, com Ana da Silva Dias (mãe Dié). Teve treze filhos no segundo casamento. Como escreveu o saudoso William Palha Dias, ‘Cel. José Dias é considerado o pró-homem da família Dias’.

Citarei aqui alguns de seus descendentes: Seu filho Manoel da Silva Dias foi prefeito de São Raimundo Nonato-PI, deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa, e senador da República. Seu neto José Dias de Castro foi vereador e prefeito de São Raimundo Nonato-PI, e deputado estadual. Seu neto João Batista de Castro Dias foi deputado estadual. Seu bisneto Marcelo Costa e Castro tem doutorado em Psiquiatria, foi deputado estadual e é deputado federal. Seu neto Cid de Castro Dias é engenheiro civil renomado e escritor. Claudete Maria Miranda Dias, sua descendente tem pós-doutorado em História e é uma historiadora conceituada. Dentre outros.

Comprou a fazenda Boa Vista, onde produziu cana-de-açúcar e algodão. Produzia rapadura, naquele engenho puxado por boi. Sua fazenda era sua paixão e seu retiro espiritual. Fala-se que tinha uma relação de grande amizade com seus vaqueiros. Construiu uma imagem digna do respeito de todos. Sua relação com o povo era de respeito, proximidade e compromisso.

Muito sonhador para a época. Mas não era um utópico, era um idealista prático. Ele ajudou a construir uma nova região. Suas ações elevaram um homem que nasceu nos confins do Estado do Piauí. Tinha aquele estilo sertanejo de acolher as pessoas. Reunia sempre sua (enorme) família. Notadamente quando recebia visitas; queria mostrar toda a sua descendência. Cito aqui as vezes em que Dom Inocêncio López Santamaría visitava sua residência, em São Raimundo Nonato-PI.

(Cel. José Dias reúne sua família em visita de Dom Inocêncio) Fonte: Castro Júnior
Cel. José Dias reúne sua família em visita de Dom Inocêncio) Fonte: Castro Júnior

Cel. José Dias era extremamente educado, falava sempre com a razão. De estatura moral digna. Ele comungava daquele bordão da época: O importante nessa vida é mobilidade. A independência vem a reboque”. Recordo aqui uma passagem de sua vida. Ele gostava de dialogar com meu tio Alvino Soares; este era filho adotivo do major Alexandrino. Praticamente eram amigos de infância. E contemporâneos – Alvino nasceu em 1880. Na ocasião em que foi apeado do poder municipal, Cel. José Dias ouviu o conselho do amigo:

- Não se desestimule com as dificuldades. A evolução nem sempre é rápida. Não importa quão lenta seja a evolução. O importante é existir evolução. Quando a vida fecha uma porta, Deus abre outra. Acredite em dias melhores.

Alguns anos depois deu a volta por cima, sendo eleito deputado estadual. E deixando um legado político, com vários descendentes políticos. Como supracitado. Tinha raízes no Distrito de Várzea Grande, pertencente ao município de São Raimundo Nonato-PI. Hoje município de Coronel José Dias-PI. Foi emancipado em 29 de abril de 1992, tendo o nome em sua homenagem.
A morte de Cel. José Dias causou um enorme alvoroço na região. De fato, a morte de um homem público muito conhecido e querido. Parecia a morte de um governador de estado. Ou de um artista famoso. Muita gente presente. E uma comoção sem igual. Faleceu deixando uma larga folha de serviços prestados à sua comunidade.
Sempre agiu com grandeza. Cel. José Dias tem seu nome guardado com muito carinho e zelo pela população de nossa região. Devemos celebrar sua memória como homem público, mas também como um cidadão honrado que sempre foi.

Marcos Damasceno
(escritor)

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