sábado, 26 de maio de 2012

Projeto "Criação de camelo" em Dom Inocêncio-PI é inviável

A imprensa veiculou esta semana a notícia de que a China estaria interessada em adquirir em torno de 300 mil jumentos por ano do Brasil . Com esses animais praticamente não tendo utilidade em terras nordestinas, servindo apenas, como afirmou também esta semana um deputado piauiense, para provocar acidentes no trânsito, pensando por este lado, até que não é má idéia a exportação do famigerado asno...mas veja como está a situação hídrica em  Dom Inocêncio...
apesar de se desconhecer o real destino dos jegues no país oriental, que poderão inclusive, fazer parte do cardápio local, bastante variado,  de simples insetos até cachorros, tudo que é comestível é aproveitado na culinária local.


 Aproveitando o intercâmbio com países de culturas bem diferenciadas da nossa, poderíamos substituir o nosso incansável jegue, no caso da ausência dele, por um animal mais forte e resistente, de grandes proporções e que consome água de maneira racional, oriundo também de regiões áridas, utilizado no Nordeste como meio de transporte, gerando fonte de renda com o turismo. O animal em questão é o camelo, natural do Oriente Médio e do deserto do Saara.



Um projeto desse porte, visando introduzir em terras semiáridas o imenso quadrúpede, símbolo maior da resistência á ambientes hostis, com baixíssimos índices pluviométricos, caracteristica marcante das regiões desérticas, não teria viabilidade em Dom Inocêncio-PI, município localizado a 615km da capital, na fronteira com Remanso-BA.

A constatação é bastante simples.O pobre animal, dotado de uma incrível capacidade de resistência, capaz de ficar dias sem beber uma gota dágua, em Dom Inocêncio, simplesmente morreria de sede!!!

O precioso líquido é artigo de luxo no município. Como um camelo necessita beber muita água de uma só vez, cerca de 45 litros de água doce, com certeza, não se adaptaria ás quantidades excessivas de cálcario presentes na água inocentina.



Neste mês de março, dia 22, comemora-se o Dia  Mundial da Água, mas os inocentinos não têm motivos para  comemorar a data. A situação hídrica no município é crítica, principalmente em sua sede, que é abastecida na parte mais baixa pela água de um poço artesiano em dias alternados, mas que apresenta altos índices de cálcario, como a maioria dos poços perfurados na região, sendo assim, imprópria para o consumo humano.

Na parte mais alta, o Alto Bela Vista, a água do poço não consegue chegar, devido á distância e a elevação do  bairro, o local tem que ser abastecido por carros pipas da Prefeitura Municipal,  mas o serviço é irregular, sem continuidade e quando acontece, não atende os moradores de maneira satisfatória, racionando o abastecimento, enchendo os reservatórios pela metade, e na maioria das vezes nem isso.


Alto Bela Vista, maior bairro de Dom Inocêncio, no semiárido piauiense 

Neste período de estiagem, ocorre algumas vezes, o socorro prestado pelos carros pipas da Defesa Civil que, na verdade, são os mesmos contratados pela Prefeitura do município, fazendo a distribuição da mesma forma, a diferença é que neste caso, a água é boa para ser consumida, uma exigência do órgão. O abastecimento dura apenas uma semana, e quando vão embora, não se sabe quando e nem se retornarão.


Caminhão da Defesa Civil retirando água da Barragem
Esta é a situação hídrica do município, caótica e sem previsão de mudanças, pelo menos a curto prazo. Sabemos que em qualquer cidade, o abastecimento de água é de responsabilidade da administração municipal ou do Estado e o serviço prestado é tarifado aos consumidores que pagam de acordo com a quantidade consumida.



O mesmo modelo poderia ser implantado em Dom Inocêncio, já que nenhum morador da sede se recusaria a pagar uma taxa de consumo mensal como acontece com a energia elétrica. O que todos desejam é poder utilizar água tratada e de boa qualidade para ser consumida, mesmo que isto tenha um custo.

Cisterna para abastecimento em residência no Alto Bela Vista, Dom  Inocêncio-PI
A questão hídrica tem que ser a principal meta da administração municipal. É preciso discutir modelos e projetos que permitam trazer água de qualidade para a sede do município acessível a todos moradores. Hoje para se ter água apenas para as tarefas diárias, não para consumo, é necessário pagar 12 reais por mil litros de água salobra, calcária, do poço citado acima. Em contato com a pele, a água provoca manchas e no cabelo endurece os fios, mesmo utilizando xampu, e se for consumida, não sabemos os seus efeitos no organismo.

Barragem do Jenipapo, em São João do Piauí
Comenta-se, não é de agora, que existe um projeto de canalização de água para o município proveniente da Barragem do Jenipapo, na cidade vizinha de São João do Piauí, mas até o momento, não temos conhecimento se foi aprovado nem quando será implantado, ou está arquivado, pois não existe movimentação em torno do projeto.

A Barragem do Jenipapo é a maior da região e uma das três reservas hídricas mais próximas que poderiam abastecer o municipio que conta com cerca de apenas duas mil pessoas na sua sede, quantidade muito pequena em se tratando de abastecimento de água. Talvez a dificuldade maior esteja na distância do local da barragem.

Barragem São Raimundo Nonato, em Oitis, Dom Inocêncio-PI
As outras possibilidades de atendimento por meio de barragens seriam as de São Raimundo Nonato, localizada no povoado de Oitis, á 14 km de Dom Inocêncio, sendo a menor das três, com capacidade máxima de um milhão de metros cúbicos, praticamente inativa, sem aproveitamento.

E, por fim, a Barragem Petrônio Portela, ou da Onça, em São Raimundo Nonato, que abastece São Raimundo Nonato e as cidades que estão no trajeto até Caracol. Esta possibilidade de canalizar água desta reserva é mais remota, já que ela serve a outros municípios através da adutora do Garrincho e Dom Inocêncio está localizada na contramão desse atendimento.
Sistema Adutora do Garrincho na  Barragem Petrônio Portela, São Raimundo Nonato
Os poços artesianos seriam viáveis se fosse possível encontrar  água de boa qualidade embaixo do solo, mesmo assim a quantidade de poços teria que ser razoável e segundo especialistas, são bastante reduzidas as chances de se encontrar água ideal para consumo nesta região.

Nota-se que a questão é delicada e a solução não é fácil, mas é preciso trazer o assunto á discussão, para se chegar á uma alternativa viável e resolver este problema, que é crítico e representa o principal anseio da população.

Diante do exposto, fica claro que o projeto de se trazer o famoso dromedário do deserto para esta cidade fica para uma outra ocasião...

Esta iniciativa para se trazer água para Dom Inocêncio tem o total apoio da Cristal,




Raimundo Campos

2 comentários:

  1. Antonio Luiz Teixeira de Moura2 de setembro de 2014 às 17:32

    Gostaria de receber maiores informações e conhecimentos sobre esta conceituada entidade. Pedimos se possível nos enviar relação de livros sobre a criação de camelo no nordeste, manuais, revistas, informativos, folhetos, catálogos, CD, DVD, guia ou anuário do setor. etc. ( Viabilizando a produção de leite).
    Moura & Filhos Ltda.
    Travessa Marco Gomes, 125 Centro.
    Cep: 64.820-000 Itaueira - PI

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    Respostas
    1. Antonio, como produtor de leite o camelo não é apropriado. Pela quantidade pequena de água que consome, o leite de camelo seria como o de ovelha, é raridade.

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