GOVERNADOR ASSEGUROU RETOMADA DO ASFALTO EM MAIO DE 2016, MAS EM DEZEMBRO AS OBRAS PARARAM; POPULAÇÃO SOFRE COM O DIFÍCIL ACESSO
Gustavo Almeida do política dinâmica
24/01/2017 08:31 - Atualizado em 24/01/2017 09:10
Ponte inacabada sobre o riacho Fazenda do Meio (Foto: Maria Amélia Almeida)
Um verdadeiro retrato do descaso político e da falta de sensibilidade dos governantes com o povo. Essa é a realidade em que vive o pacato município de Dom Inocêncio, a 615 km de Teresina. Há exatamente um ano, a cidade ganhava repercussão estadual devido as enchentes que deixaram famílias desabrigadas e todas as estradas interrompidas com a cheia de riachos. Sem ligação asfáltica, ninguém chegava ou saía.
A grande repercussão revelou ao Piauí um descaso com os moradores da região. Todos os acessos para as cidades vizinhas são de estradas de chão, cortadas por riachos e que viram um verdadeiro lamaçal nos períodos chuvosos. Após as enchentes de 2016, o governador Wellington Dias (PT) assinou ordem de serviço na comunidade Ingazeira e garantiu que a estrada estaria asfaltada ainda naquele ano. Nada mudou.
A OBRA
O asfaltamento da estrada é um dilema da região. São cerca de 80 km para ligar Dom Inocêncio à PI-140, em São Lourenço do Piauí, caminho que é via de acesso a São Raimundo Nonato, cidade polo da região. Após anos de promessas, as obras começaram em 2011, no governo de Wilson Martins (PSB). Ao todo, 18 km foram asfaltados e uma das três pontes sobre os riachos foi concluída, mas a obra parou meses depois. Somente em 2016, devido às enchentes, lembrou-se dela novamente.
Após a ordem para retomar o asfaltamento dada por Wellington Dias, máquinas e operários da construtora Jurema começaram a trabalhar em ritmo intenso, o que fez o povo acreditar na promessa de conclusão até dezembro. Apesar disso, nenhum quilômetro a mais de asfalto foi feito e atualmente as obras estão totalmente paradas e sem previsão de retomada.
Os poucos serviços realizados após as enchentes foram apenas de terraplanagem e construção das colunas de uma outra ponte, sobre o riacho Fazenda do Meio. Quando assinou a ordem de serviço para retomada em maio de 2016, o governador afirmou em tom confiante: “Vamos iniciar a todo vapor e conseguir entregar a nova estrada até o fim do ano”. O ano acabou e o sonho da obra concluída ainda continua distante.
De acordo com o Departamento de Estradas de Rodagens do Piauí (DER), Dom Inocêncio, que tem 28 anos de emancipação política, é um dos quatro municípios do estado que não possuem acesso com estrada asfaltada. Além dele, Morro Cabeça no Tempo, Domingos Mourão e Canavieira também vivem a mesma realidade.
MILHÕES INVESTIDOS
Os 18 km asfaltados em 2011, ainda na gestão Wilson Martins, tiveram recursos na ordem de R$ 10 milhões de emenda parlamentar do deputado federal Marcelo Castro (PMDB), que é bem votado na região, e outros R$ 10 milhões de uma operação de crédito do governo do estado, conforme informou ao Politica Dinâmica o próprio ex-governador.
Segundo ele, os recursos da emenda parlamentar foram todos utilizados no trecho que atualmente está asfaltado, mas apenas uma pequena parte do dinheiro do estado foi aplicada à época. Wilson alegou que não houve tempo de fazer o outro trecho, mas que o dinheiro ficou na conta quando deixou o governo.
“O que eu sei é que nem a parte que eu deixei o recurso dos R$ 10 milhões, dentro de um programa, foi concluída. Esse dinheiro não dava para fazer a obra toda, mas daria para fazer outra etapa. Lá a dificuldade é porque é de difícil acesso, muito cara e longe. Cada governo tem que fazer um pedaço”, falou.
GOVERNO E CONSTRUTORA DIVERGEM
Há mais de um mês os trabalhadores deixaram o canteiro e a obra está parada. Procurada pelo Politica Dinâmica, a Secretaria de Infraestrutura (Seinfra) informou que todos os pagamentos à construtora Jurema estão em dia e “acredita” que a empreiteira tenha parado as obras por conta do início das chuvas na região.
A Seinfra ainda alegou que “talvez” a maior dificuldade enfrentada na obra seja por conta do clima, mas disse que todos no órgão estão empenhados em concluí-la. Ainda conforme a secretaria, R$ 5 milhões já foram investidos pela gestão de Wellington Dias no asfaltamento da estrada e que a retomada da obra depende apenas da Jurema.
Já a construtora Jurema disse que executou o que lhe foi pago para executar e depois disso parou os serviços. A empresa não falou em chuvas na região. Segundo a empreiteira, o governo do estado não está devendo, mas novos recursos não foram colocados para que a empresa continuasse a obra. Com a conclusão daquilo que foi pago para fazer, a construtora retirou seus trabalhadores e disse que aguarda novos investimentos do governo para dar prosseguimento ao lendário asfaltamento.