Com o intuito de cumprir com uma promessa empenhada há vários anos, Josino Francisco da Silva, morador da localidade Sal de Cima, Dom Inocêncio-PI, resolveu realizar as tradicionais Rodas de São Gonçalo neste sábado 14/04/12. O evento havia sido programado há muito tempo, mas precisava reunir seus quatro filhos, Evangelista, o popular "Rup", Chiquinho, Zivaldo e Brás, que estavam em São Paulo, fato que ocorreu nesta Semana Santa passada.
As Rodas de São Gonçalo tem origem portuguesa e pode ser encontrada em diversos estados do Brasil.Na cidade do Porto, em Portugal, o ato de se dançar nas ocasiões de comemoração à São Gonçalo era chamado de Festa das Regateiras. Ocasião em que participavam as mulheres que queriam se casar. A dança era realizada dentro da igreja, o que nos remete à Idade Média e Moderna em Portugal
O Santo
São Gonçalo de Amarante é um santo português que passou por um período de busca interior e encontrou na experiência popular a maneira de converter pecadores. Conta-se que São Gonçalo para reabilitar as prostitutas, vestia-se de mulher e dançava e cantava com elas a noite toda. Ele entendia que as mulheres que participassem dessas danças aos sábados não cairiam em tentação no domingo. Acreditava ainda, que com o tempo se converteriam e se casariam.
São Gonçalo pregou e operou supostos milagres por todo o norte de Portugal. Após sua morte, passou a ser protetor dos violeiros, remédio contra as enchentes, além de casamenteiro.
São Gonçalo, o santo era cantador, festeiro e dançarino |
A Dança
A dança hoje é organizada em pagamento de promessa devida a São Gonçalo. O promesseiro é quem organiza a função, administrando todo o processo necessário à realização deste ritual. É realizada dentro de casa ou em local coberto, onde se arma um altar com a imagem deste santo e outros de devoção do promesseiro. Em frente a este altar é que se desenvolve toda a dança.
Os dançarinos se organizam em duas fileiras, geralmente com 12 integrantes uma de homens e outra de mulheres, voltadas para o altar. Cada fileira é encabeçada por dois violeiros, mestre e contramestre, que dirigem todo o rito.
A dança é dividida em partes chamadas “volta”, cujo número varia entre 5, 7, 9 e 21. Entre cada “volta” há interrupção e todos aproveitam para se servir das iguarias oferecidas pelo promesseiro.
As “voltas” são desenvolvidas com os violeiros cantando, a duas vozes, loas a São Gonçalo, enquanto dançarinos, sapateando na fileira em ritmo sincopado, dirigem-se em dupla até o altar, beijam o santo, fazem genuflexão e saem sem dar as costas para o altar, ocupando os últimos lugares de suas fileiras.
Cada volta pode durar de 40 minutos a 2 ou 3 horas, dependendo do número de dançadores. Na última “volta”, em São Paulo chamada “Cajuru”, forma-se uma roda onde o promesseiro a dança carregando imagem do santo, retirada do altar.
Se houver mais de um pagador de promessa e mais de uma imagem, todos os promesseiros carregam simultaneamente as imagens. No caso de haver apenas uma imagem para vários promesseiros, o santo vai passando de mão em mão, enquanto os demais dançarinos agitam lenços brancos.
As Rodas de São Gonçalo de Amarante acontecem durante a Festa de Nossa Senhora do Rosário. Participam desta dança igualmente, as moças casadouras da cidade, que em pares e vestidas de branco empunham um arco ornamentado de flores e fitas.
Após a missa matinal, as moças saem da igreja pelas ruas em cortejo, cantando loas ao santo casamenteiro, acompanhadas de músicos tocando violas, rabecas, violões e pandeiros. A dança se estende pela noite, defronte das igrejas ornamentadas com arcos de flores, iluminados por velas acesas
A dança inventada por ele continuou sendo realizada por diversos grupos que além de festejar o santo, pagam promessas feitas a ele.
A festa
No Sal de Cima, a festa de São Gonçalo contou com duas fileiras de 12 integrantes cada uma, mesclados entre jovens, adultos e senis. Os mestres de cerimônias, ou puxadores das rodas, eram o popular "João Gamela" do Pé do Morro em Dom Inocêncio e Venâncio da Bahia. Foram ao todo duas danças que totalizaram quatro rodas, já que cada dança, por ter duas fileiras cada uma, representava duas rodas.
A primeira roda, que durou em torno de uma hora, foi mais estendida que a segunda, que passou pouco mais de meia hora. Durante a dança os participantes eram servidos pelos moradores da casa geralmente com bebidas. "São Gonçalo era um santo atrevido e que gostava destes lutrimentos", afirmou um dos participantes do evento e que era profundo conhecedor da dança. Josino, dono da festa, não participou das rodas. Segundo ele, o anfitrião do evento recomenda-se não dançar o São Gonçalo, apenas auxiliar os dançarinos.
No final das rodas, a festa continuou no prédio da escola do Sal de Cima, com animação do Forrozão Cavalo Mágico, com Sousinha nos teclados, que tocou a noite toda.
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D.Levi, de verde, D. Lourdes de rosa e D Creuza de branco segurando o arco de São Gonçalo |
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Zé Nvaldo, o popular "Haroldo, do trio Nordeste na zabumba e Avelino na sanfona |
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João Gamela ao centro comandando a roda |
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As jovens compareceram á festa |
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Apesar da poeira, que foi constante, vemos os puxadores, Venâncio e João Gamela orientando os dançarinos |
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Deusdete, o repentista mais famoso da localidade do Sal, também ajudou na música |
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A alegria foi compartilhada por todas as dançarinas, que beberam o tradicional vinho em homenagem ao santo |
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Davi, da Lagoa do Sal, arrebentou no pandeiro |
parabéns ao casal Josino e Eudete que fizeram uma maravilhosa festa de São Gonçalo, resgatando as tradições de nossa terra
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