Clóvis do Forró |
O município de Dom Inocêncio-PI é conhecido nacionalmente como “A TERRA DOS SANFONEIROS”. Com direito às referências de Luiz Gonzaga, pela pessoa de Raimundo do Mundico, de Dominguinhos, pela pessoa de Gilberto Dias, e de Waldonys, que esteve na nossa terra, e ficou impressionado com a centenária tradição do forró.
Impossível falar sobre Dom Inocêncio-PI sem mencionar-lhe. Um dos inocentinos mais conhecidos. Uma personalidade respeitada no mundo do forró, do mais novo sanfoneiro ao mais velho. Pra se ter noção da importância da sua história, nos quase 101 anos de forró, na nossa terra, ele participou de quase 60 anos. Sua caminhada é longa. Ele vem de longe com sua carreira musical. Constitui-se o mais longevo sanfoneiro, em plena atividade, do nosso município.
Entendendo que estava mais do que na hora de homenagear sua história musical, e de vida, estou aqui para colocar o desejo popular em prática. Mas o que dizer de um homem de tamanha importância histórica? Falta-me até palavras para adjetivar Clóvis Dias. Ele é mestre de muitos mestres do forró.
Vou pelo caminho da tradição oral. Fui convidado por amigos professores, capitaneados pela professora Rita Maria, para escrever estas singelas palavras em homenagem ao lendário sanfoneiro do povo. Ele merece muito mais homenagens, pela história que tem. É nossa obrigação, pelo tanto que ele fez pelo nosso lugar.
Trata-se aqui de uma visitação memorável e histórica à trajetória musical de um sanfoneiro que muito nos alegra e nos orgulha. Clóvis Dias é unanimidade na vontade popular. O sentimento que o une ao povo é espontâneo, puro e verdadeiro. É a força da sua história.
Clóvis Dias é descendente da “Família Dias da Silva”, a primeira a habitar o histórico povoado de Curral Novo (hoje sede de Dom Inocêncio-PI). Filho de Joaquim Luiz Dias Pereira, conhecidíssimo nas redondezas, e de Dona “Basilisa”. Minha tia, prima da minha avó paterna.
O sanfoneiro casou-se com Dona Virgínia, filha do lugar, professora e enfermeira prática, mulher popular, batalhadora, com muitos serviços prestados ao nosso município. Antes mesmo de existir o município. Foi vereadora por várias legislaturas (1989-1992/1993-1996/ 2001-2004), também presidindo a Câmara Municipal, oportunidade em que construiu o prédio do Poder Legislativo municipal, com homenagem ao saudoso vereador Enedino Rodrigues Damasceno (meu tio). Foi vice-prefeita por duas vezes, estando no exercício do mandato (1997-2000/2009-2012). Foi candidata a prefeita em 2004.
Tiveram 5 filhos: Cláudio, Léo, Clodoaldo, Joaquim Luiz Neto (Pereira) e Clóvis Filho. Dois deles são sanfoneiros: Léo e Clodoaldo. Mas todos são familiarizados com a música. Os netos também. Clodoaldo é presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município. Pereira é vereador. Todos herdaram o estilo dos pais, são populares.
Quando criança não podia haver menino mais enérgico e ativo do que Clóvis Dias. Segundo sua mãe, ‘um menino impossível’. Foi assim também seu encontro com a sanfona. Pela estripulia e curiosidade. Era o tempo da pé-de-bode (sanfona de 8 baixos). Aliás, fala-se que a sanfona era seu brinquedo, fato que muito o divertia. Até hoje é assim. Ele teve berço musical. O patriarca do forró, Júlio Dias, era seu tio. Seus irmãos também tocavam sanfona, dentre eles, Mundico e Milton (da Sônia). O primeiro é pai do famoso Raimundo do Mundico. O segundo tem muitos descendentes na música, em notável a banda “Forró Brincadeira”, composta por seus filhos, seus netos e sobrinhos.
A História (como Ciência) pertence àqueles que realizam obras. Clóvis Dias construiu uma grande obra musical na nossa terra, tornando-se uma lenda. Foi ele e seu sobrinho, Raimundo do Mundico, que revolucionaram a sanfona de 120 baixos na região, a partir dos anos 50. Muito homenageado pelo povo, que lhe quer bem. Por muitas vezes vi os expressivos sanfoneiros da nossa terra, Raimundo do Mundico, Gilberto Dias, Maurinho e Waldemar do Olício, além de outros músicos como Edcarlos Dias, falarem em público, em alto e bom som: “O velho Clóvis é o maior patrimônio do forró da nossa terra!”
Em toda a vasta tradição forrozeira do nosso lugar, se difundiu a fama do nome de Clóvis Dias. Por longo tempo ele ajudou a sustentar a tradição do forró, dedilhando sua sanfona e cantando para o povo. De grande originalidade popular, de criatividade artística e de dinamismo musical, ele é um sanfoneiro muito querido e muito celebrado pelo povo da região.
Clóvis Dias tem sido um sanfoneiro do povo, por sucessivas décadas. Os inocentinos, assim como todos da região, orgulham-se com o sentimento da grandeza da personalidade do lendário sanfoneiro. Ele é a fonte de toda glória e inspiração do forró da nossa terra.
Aqui constam simples palavras dedicadas ao sanfoneiro do povo. Ele deve ser sempre respeitado, homenageado, estudado e guardado na memória popular. E em lugar de destaque.
Clóvis Dias pertence ao grupo dos imortais artistas do nosso querido Brasil. Pessoas que entram para o panteão da imortalidade. Brasileiros que jamais sairão do nosso coração e da nossa mente.
Quantas histórias pra contar... Quantas apresentações realizadas... Quantos anos de estrada, de luta e de perseverança... Quantas noites de trabalho cansativo... Quanta contribuição histórico-cultural... Quanta honra para nós, sabermos que o “sanfoneiro do povo” é gente da gente, filho da nossa terra...
Ele é uma bandeira. Clóvis Dias é a própria história da sanfona. Alma gêmea da sanfona. Aquele menino que começou tocar aos 6 anos de idade continua impregnado no veterano de hoje, depois de mais de 60 anos de carreira artística e destino musical. Orgulho de todos os inocentinos.
Concluo, portanto, com o bordão de Gilberto Dias: “Clóvis Dias! Lembrem sempre desse nome. Ô meu velho, você é nosso e é caro!” Isso é carinho e respeito. Essa expressão representa o sentimento popular. A voz de todos nós inocentinos.
Marcos Damasceno
(escritor)
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